terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Carta de um cão

Pessoal,


Vamos divulgar esta carta por ai, na tentativa de sensibilizar as pessoas para que não ponham na rua seus animais de estimação... Está chegando o final de ano e o índice de abandono aumenta muito em função das festas e ferias. Eu já mandei para toda a minha lista de email, pois quero este email nos 4 acantos do Brasil, e pq não do mundo. e Vc? Bjs, Nati




Carta de um cão



Jim Willis

Quando eu era pequenino, eu te divertia com minhas peripécias e te fazia sorrir. Você me chamava de filho e, apesar de alguns sapatos roídos e traveseiros destroçados, me tornei seu melhor amigo. Toda vez que eu fazia algo errado, você sacudia seu dedo em riste e dizia "Como você foi capaz?", para logo depois, com muito amor, me virar de pernas para o cima e coçar minha barriga.
Demorou um pouco mais do que o esperado para eu aprender a me comportar dentro de casa, porque você sempre estava muito ocupado, mas conseguimos juntos superar as dificuldades. Eu lembro das noites em que me aconchegava com você na cama e ouvia suas confissões e sonhos secretos, e eu acreditava ser impossível ter uma vida melhor.
Juntos saíamos para longas caminhadas, corridas pelo parque, passeios de carro, parávamos para tomar sorvete (eu só comia o cone, porque "sorvete faz mal para cachorros", você dizia, e eu cochilava ao sol esperando você voltar para casa, ao final do dia.
Aos poucos, você passou a gastar mais tempo no trabalho e em sua carreira, e mais tempo ainda procurando por uma namorada. Eu esperava por você pacientemente, te confortava nos momentos de desilusões e decepções, nunca te condenei sobre decisões erradas, corria de um lado para outro com alegria quando estavas de volta para casa e também quando você se apaixonou.
Ela, agora sua esposa, não gostava de cães, mas, ainda assim, eu a recebi bem em nossa casa, tentei mostrar-lhe afeição e a obedecia. Eu estava feliz, porque você estava feliz. Então, os bebês chegaram e compartilhei de sua felicidade. Eu estava fascinado com aquelas bochechas rosadas, com o cheirinho deles, e eu também queria cuidar deles. Entretanto, ela e você tinham mêdo que eu poderia machucá-los e eu era enxotado ou para o quarto ou para a jaulinha.
Oh! Como eu queria amá-los, mas tornei-me um "prisioneiro do amor". Quando começaram a crescer, tornei-me amigo deles. Se agarravam ao meu pêlo e cambaleavam ao se levantar, enfiavam os dedinhos em meus olhos, investigavam meus ouvidos e davam beijos em meu nariz. Eu amava tudo a respeito deles e como me tocavam – porque seu toque era agora tão raro – eu teria defendido a vida deles com minha prórpia vida, se necessário fosse. Eu ia para a caminha deles ouvir o que lhes perturbava e seus sonhos secretos e, juntos, aguardávamos pelo barulho de seu carro entrando na garagem.
Houve um tempo em que quando te perguntavam se você tinha um cão, você tirava minha foto de sua carteira e lhes contava histórias sobre mim. Entretanto, nos últimos anos, você simplesmente repondia "sim" e mudava logo de assunto. Eu, que um dia fui "seu cão", passei a ser "somente um cão", e você se arrepende das despesas que teve comigo. Agora, você tem uma oportunidade de emprego em outra cidade e vocês se mudarão para um apartamento onde não permitem animais domésticos. Você tomou a melhor decisão para a sua família, mas houve um tempo em que eu era a sua única família.
Eu estava feliz pelo passeio de carro, até chegarmos ao abrigo de animais. Havia no ar o cheiro de cães e gatos, o medo e a falta de esperança. Você preencheu todos os formulários e disse: "Tenho certeza que vocês encontrarão um bom lar para ele". Eles deram com os ombros e fizeram uma expressão de dúvida. Eles entendem as dificuldades encontradas por um cão de meia-idade, mesmo que ele tenha "documentos". Você teve de retirar a mão de seu filho de minha coleira, enquanto ele gritava: "Não papai! Não deixe que eles levem meu cachorrinho!" Fiquei preocupado com ele, principalmente pela lição que você havia acabado de ensiná-lo, a respeito de amizade e lealdade, a respeito de amor e responsabilidade e, também, sobre respeito pela vida.
Você deu um tapinha de adeus, na minha cabeça, evitou olhar nos meus olhos e, cordialmente, se recusou a levar minha coleira com você. Você tinha um prazo a ser considerado, e agora eu tinha um também. Depois que você saiu, as moças do abrigo disseram que você, provavelmente, sabia sobre sua mudança há alguns meses e não fez nenhuma tentativa de conseguir-me um outro lar. Elas balançaram suas cabeças e perguntaram: "Como você foi capaz?
Aqui no abrigo, elas cuidam de nós, na medida do possível, pois estão sempre muito ocupadas. Elas nos dão comida, é claro, mas perdi meu apetite, alguns dias atrás. No início, sempre que alguém passava pela minha casinha, eu corria para a grade, na esperança que era você e que havia vindo me buscar - que tudo não havia passado de um pesadelo - ou que, pelo menos, era alguém que se preocupasse comigo, qualquer pessoa que pudesse me salvar. Quando percebi que não poderia competir com o clamor por atenção dos filhotes do abrigo, me retirei para um canto e esperei.
Ouvi os passos dela no corredor, quando veio me buscar, no final do dia. Caminhei atrás dela, pelo corredor, até uma sala. Era um ambiente bastante calmo. Ela colocou-me sobre uma mesa, coçou minhas orelhas e disse-me para não ter medo. Meu coração acelerou antecipando o que estava por vir, mas havia também uma sensação de alívio. O "prisioneiro do amor" havia esgotado os seus dias. Como é de minha natureza, eu estava mais preocupado com ela. A responsabilidade que ela carregava pesava muito nos ombros dela e eu sabia disto, da mesma forma que sabia de como estava o seu humor todos os dias. Ela delicadamente colocou um torniquete em minha perna, enquanto uma lágrima escorria pelo seu rosto. Lambi a mão dela do mesmo jeito que fazia com você, para te confortar, anos atrás. Ela, habilmente, introduziu a agulha hypodérmica em minha veia. Enquanto sentia a picada da agulha e o líquido frio percorrendo meu corpo, deitei-me sonolentamente, olhei profundamente nos olhos meigos dela e murmurei: "Como você foi capaz?"
Talvez pelo fato dela ter entendido minha linguagem canina, falou: "Sinto muito." Ela me abraçou e apressou-se em dizer que o trabalho dela era assegurar-se de que eu fosse para um lugar melhor, onde eu não seria ignorado, maltratado ou abandonado e que não precisasse cuidar de mim mesmo - um lugar de amor e luz, bem diferente daqui. Com a última porção de energia que ainda me restava, tentei transmitir-lhe, mexendo minha cauda, que o meu "Como você foi capaz?" não foi dirigido à ela. Foi dirigido à você, Meu Amado Mestre. Eu estava pensando em você. Pensarei em você e esperarei por você, para sempre. Que todas as pessoas em sua vida te dediquem tamanha lealdade.
Nota do autor: Se "Como Você Foi Capaz" trouxe lágrimas aos seus olhos, enquanto você lia, da mesma forma que trouxe aos meus, enquanto eu escrevia, é porque esta é a história de milhões de animais de estimação, que um dia tiveram um lar, mas que morrem a cada ano em abrigos


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